Gênero: Estratégia
Ano: 1991
Fabricante: Maxis/Nintendo
Até que ponto um jogo pode ser considerado como uma obra pessoal de alguém? Distinguir o estilo pessoal de um criador tornou-se comum quando se fala sobre jogos, afinal é a visão pessoal de um produtor que determina, para o melhor e para o pior, o caminho que um jogo segue e nesse sentido, qulquer jogo é uma obra pessoal. Contudo, considerá-lo apenas uma obra pessoal de um único indivíduo retira o crédito à equipa que com ele colaborou e que, nos casos de sucesso, teve de implementar a visão do criador com as limitações técnicas do meio em que se movia.
O nome de Will Wright, um dos criadores de jogos mais conceituados de sempre, estará sempre ligado à sua criação mais emblemática, Sim City, lançado em 1989 e rapidamente convertido para quase todos os computadores que existiam na altura. Apesar de ter sido criado contra a maré – à partida quem é que iria querer investir num jogo que, no papel, pouco mais parecia do que uma tarefa administrativa? - Sim City não só foi reconhecido como um excelente jogo, como ainda foi apreciado por milhões de jogadores em todo o mundo.
Eis que em 1991 é colocada no mercado uma conversão para SNES – o que podia parecer natural, deixa de o ser quando pensamos que Sim City é um jogo que, à partida, apenas se adequa ao PC. As suas bases, o interface, a dinâmica, a jogabilidade, todos estes elementos apontam numa única direcção: PC, convertê-lo ao formato de uma consola de jogos mais parece uma decisão sem qualquer fundamento, um jogo de estratégia para PC estaria longe de se adaptar a uma consola como o SNES.
A colaboração entre a Maxis e a Nintendo tinha assim um trabalho complicado pela frente – como transportar um jogo tipicamente feito para o PC, para uma consola de 16-bits, com todas as diferenças de estética, de jogbilidade, de ambiente e de público que isso implicava? Sim City era excelente no PC, mas uma conversão directa para o SNES iria resultar num jogo que seria simplesmente ignorado – o público interessado já o conhecia no PC e o ambiente um pouco frio e impessoal que é aceitável no PC iria ser um fracasso retumbante na 16-bits da Nintendo.
O resultado deste esforço foi surpreendemente agradável para o jogador. Sim City no SNES, fiel aos seus princípios, mantém os objectivos da versão PC mas vai além de ser uma simples conversão e cria um autêntico capítulo próprio, com a sua essência e personalidade.
Do ponto de vista técnico, Sim City no SNES parece ter sido alvo de uma reconstrução total comparado com o original. As cores são muito mais naturais, as estruturas mais detalhadas e a realização gráfica em geral muito mais amiga do sentido visual do que o jogo para PC, em linha com a 16-bits da Nintendo no ano em que foi lançado. Do ponto de vista sonoro, também recebemos diversas melhorias – uma banda sonora digna desse nome, com alguns toques surreais, onde as faixas mais simpáticas das primeiras etapas levam a composições bem mais estranhas quando a nossa cidade apresenta uma população mais elevada.
Apesar das melhorias técnicas, é ao nível da dinâmica de jogo que Sim City se destaca no SNES. Como já foi dito, existem diferenças vastas na jogabilidade entre um jogo de PC e um jogo de consolas que são simplesmente impossíveis de enumerar mas que se tornam evidentes quando jogamos. Ainda hoje, em 2010, existem jogos que se enquadram muito melhor no PC do que numa consola e vice-versa, imagine-se no final da década de 1980/início da década de 1990.
No caso de Sim City para SNES, a sua “consolização” foi um sucesso, na medida em que o jogo apresenta uma dinâmica mais convidativa a um jogador de consolas – não só tudo parece mais amigável, como a simbiose entre gráficos, som e jogabilidade foi adaptada de forma exemplar de forma a preencher a escala temporal de um jogador de consolas – à época, mais curta e mais intensa que a de um jogador de PC, embora do ponto de vista numérico, a contagem de tempo entre Sim City – PC e Sim City - SNES seja semelhante. Continuamos a ter de construir infraestruturas e a criar condições para o desenvolvimento de zonas residenciais, comerciais e industriais, a ter de resolver problemas como criminalidade, trânsito, poluição e a equilibrar um orçamento municipal...mas a partir do primeiro momento, percebemos que não estamos a jogar o original, sobretudo quando o nosso conselheiro, Dr. Wright, figura inspirada na do criador, Will Wright, entra em cena com os seus contributos.
Nota-se um esforço em tornar o jogo mais apelativo a um público diferente do que o adoptou no PC – afinal, um título com a jogabilidade de Sim City seria difícil de tornar apelativo a um público voltado para Super Mario World e F-Zero, mas Sim City no SNES consegue não só manter os elementos do original que o tornaram num clássico incontornável, como ainda coloca um pé no território dos jogos de consolas – que jogador de consolas iria admitir um título sem banda sonora? - e não deixa de acusar o dedo da Nintendo em alguns pontos, sem influência no decurso do jogo mas que constituem umas lembranças agradáveis, e de facto um terreno onde temos uma floresta que segue as feições do nosso amigo Mario constitui um elemento, bem como a invasão de Tóquio por (surpresa...?) Bowser relembram mais uma vez que não estamos a jogar um título para PC, mas que estamos, isso sim, perante uma adaptação muito bem conseguida e que, se não é uma conversão fiel do original, tem um motivo simples – diferentes plataformas requerem abordagens diferentes. Claro que vários elementos podem parecer simplesmente estranhos se transpostos para um ambiente urbano real - somos incentivados a construir caminhos-de-ferro em vez de estradas e o sistema de presentes pode levantar algumas dúvidas - mas que importam esses pormenores quando a experiência nos prende de tal forma?Ou seja,Sim City,é um jogo estimulante e incrivelmente difícil de largar, mesmo passados anos.
Créditos Review: Yggdrasil
Download (rom em português): Clique Aqui!
Cara, ótimo post sobre a conversão para o snes, vc poderia falar mais sobre as caracteristicas que diferenciam as versões das duas plataformas.
ResponderExcluirDecidi comprar a fita graças a esse belo review.
ResponderExcluirComo sempre estão de parabéns, pessoal!